i3S replica tumores cerebrais pediátricos para novas terapias

Instituto de investigação do Porto criou réplicas de tumores cerebrais pediátricos com o objetivo de criar novas terapias e identificar fármacos mais adequados ao tratamento.
 
Agência Lusa
Agência Lusa
16 dez. 2025, 08:33

Cérebro humano em ressonância
Fotografia: i3S quer desenvolver novas terapias para tumores cerebrais em crianças


Investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) criaram organóides (mini-órgãos 3D cultivados em laboratório a partir de células-tronco, que mimetizam a estrutura e função de órgãos reais) que mimetizam tumores cerebrais pediátricos, permitindo “identificar os fármacos mais adequados” e desenvolver “terapias mais eficazes e menos tóxicas”, foi divulgado esta terça-feira.

Em comunicado, o i3S explica que uma equipa de cientistas liderada por Jorge Lima “conseguiu criar organóides a partir de material cirúrgico de tumores cerebrais pediátricos”.

“Estes mini-tumores cultivados em laboratório mimetizam os tumores originais, o que permitirá identificar os fármacos mais adequados para cada tumor e desenvolver terapias mais eficazes e menos tóxicas”, descreve o instituto.

O i3S lembra que “os tumores cerebrais pediátricos representam a principal causa de morte por cancro na população pediátrica”, pelo que o trabalho “abre novas perspetivas para o tratamento personalizado de tumores cerebrais em crianças”.

A “falta de modelos pré-clínicos capazes de refletir a complexidade e diversidade” dos tumores cerebrais infantis “tem representado uma barreira significativa para os clínicos”, assinala o instituto.

“A partir de amostras cirúrgicas, os investigadores do i3S conseguiram estabelecer 20 culturas derivadas de doentes, abrangendo diferentes tipos de tumores, como gliomas de baixo e alto grau, meduloblastomas e até casos raros com alterações genéticas específicas”, indica.

Jorge Lima, líder da equipa, observa que os organoides desenvolvidos “reproduzem fielmente as características morfológicas, genéticas e epigenéticas dos tumores primários”.

Tornaram-se, por isso, em “ferramentas valiosas não só para testar fármacos e identificar quais os compostos mais eficazes para tratar cada tumor, mas também para estudar a biologia tumoral e avançar na medicina de precisão”.

Segundo o investigador, este trabalho, que começou com o apoio da Fundação Rui Osório de Castro e está a ser desenvolvido no grupo do i3S Cancer Signalling and Metabolism e no Ipatimup Diagnósticos, representa “um marco” na relação entre investigadores e clínicos.

“Através de uma colaboração constante com oncologistas pediátricos, neurocirurgiões pediátricos e patologistas do Hospital de S. João, conseguimos criar uma dinâmica de recolha de amostras e criação de organóides para tratamento e estudo”, destaca.

Por outro lado, a plataforma “abre caminho para a criação de um biobanco de organóides, garantindo material para investigação e desenvolvimento de terapias personalizadas”.