Tradição judaica milenar celebrada em comunidade no coração de Belmonte
Em Belmonte, vila marcada por uma antiga comunidade judaica, uma das principais celebrações religiosas, o Hanukkah, ultrapassa as portas dos lares e da sinagoga e celebra-se também na rua, num momento aberto de partilha e convivência, que acolhe todos os que queiram participar, independentemente da sua fé.
No culto religioso, que se realiza na Sinagoga, participam exclusivamente judeus. Mas no Largo do Pelourinho é feito “um convívio comunitário onde todos são bem-vindos, em sinal de união e fraternidade”, explica, ao Conta Lá, Rafael Diogo, membro da comunidade judaica de Belmonte, em Castelo Branco.
Ao início da noite de domingo acendeu-se a primeira luz da chanukhiá, candelabro com nove velas, e distribuíram-se bolos feitos pelos judeus.
Joaquim Costa, da Empresa de Turismo de Belmonte, realça ao Conta Lá que "os suvinhotes" (sufganiot), uma espécie de bolas de Berlim, são confecionados segundo os preceitos kosher e supervisionados por judeus, mas partilhados por quem queira participar, como vai acontecer nas restantes atividades da Festa das Luzes, até dia 21.
“Belmonte é uma terra de tolerância, a comunidade cristã e não cristã sempre se deram muito bem com a comunidade judaica e, por isso, celebramos há muitos anos conjuntamente, em comunhão, o Hanukkah, a Festa das Luzes”, acrescenta Joaquim Costa.
Este ano também é possível, mediante marcação, os não judeus visitarem a Sinagoga da vila, a partir das 14 horas, no dia 21, altura em que se acende a oitava e última luz.
“Há mais de 500 anos que há judeus em Belmonte. É uma das comunidades mais antigas em Portugal. Temos culto todos os dias na Sinagoga e é uma comunidade bem viva”, salienta o jovem de 17 anos Rafael Diogo, ajudante do rabino.
Porque se celebra o Hanukkah?
Rafael Diogo considera que todas as celebrações judaicas são importantes. Esta assinala a vitória dos judeus sobre um exército muito maior, greco-sírio, quando os judeus foram obrigados a adorarem deuses gregos no Segundo Templo e se rebelaram.
“Queriam atingir a nossa alma. A alma judaica”, descreve Rafael Diogo, estudante de Gestão e membro ativo da comunidade judaica de Belmonte, atualmente com cerca de 45 pessoas.
O Hannukah celebra o milagre que houve no Segundo Templo de Jerusalém no tempo dos macabeus, no século II antes de Cristo. Assinala a libertação e purificação do templo de Jerusalém.
Após a libertação, verificou-se que só havia azeite suficiente para manter a chama eterna acesa da menorah, o candelabro, por mais um dia, mas a chama ardeu durante oito dias, o tempo necessário para se fazer e consagrar mais azeite para o templo, “o milagre de Hannukah”, reforça Rafael Diogo.
Na Festa das Luzes é usado um candelabro de nove braços de grandes dimensões, exposto no Largo do Pelourinho, onde é acesa uma vela todos os dias, após o por do sol, para recordar o período de tempo que a chama ardeu. O braço do centro e o mais alto, shamash, serve para acender as restantes velas.
Programa ao longo da semana
Do programa, além do acender diário das luzes do candelabro, há concertos, instalação e performance de luz, atividades distribuídas entre o Largo do Pelourinho, o Museu Judaico de Belmonte e o Ecomuseu do Zêzere.
Esta segunda-feira, a Academia Senior de Belmonte atua às 18 horas junto ao candelabro.
No dia a seguir, na terça-feira, será apresentada, a instalação e performance de luz “Os outros” no Museu Judaico, pelas 18h30. Na quarta-feira a Escola de Música de Belmonte interpreta a Sinfonia de Ilse Weber.
Para quinta-feira, às 17 horas, está prevista a inauguração da exposição “A luz que transforma o lixo em luxo”, da autoria de Inês Ferreira, patente até 7 de janeiro, no Ecomuseu do Zêzere.