Venda de Centro de Dados na Covilhã: o que está em causa e as expectativas da autarquia

Centro de Dados foi vendido por 120 milhões de euros e prevê-se que a operação fique concluída no primeiro trimestre de 2026. Presidente da Câmara da Covilhã espera que a transação permita o desenvolvimento do projeto inicial.
 
Ana Ribeiro Rodrigues
Ana Ribeiro Rodrigues Editora-executiva
30 nov. 2025, 16:30

O edifício do Centro de Dados, na Covilhã, tem o formato de um cubo e está rodeado por um espelho de água
Fotografia: Centro de Dados foi inaugurado em 2013 no antigo Aeródromo da Covilhã

O Centro de Dados da Altice na Covilhã foi vendido por 120 milhões de euros à Asterion Industrial Partners. O anúncio foi feito na sexta-feira pelo fundo espanhol de investimento em infraestruturas e a empresa prevê que a operação esteja concluída “no primeiro trimestre de 2026”, depois de formalizadas as aprovações regulatórias sobre a transação.

O presidente da Câmara da Covilhã, Hélio Fazendeiro, adiantou ao Conta Lá que recebeu da Altice a garantia de que “os postos de trabalho estão assegurados” e diz que que “a expectativa é que haja um desenvolvimento do projeto do Data Center para crescer do ponto de vista físico e do ponto de vista da empregabilidade”.

Agora que o anúncio da venda foi feito, o autarca covilhanense tenciona reunir com os novos proprietários, para que se possam “articular e estreitar as relações e perceber o que é possível otimizar e desenvolver, para que se possa tirar o máximo benefício da estrutura e do projeto empresarial”.

“O que podemos esperar é que esta transação permita concretizar o projeto inicial de investimento, que era um projeto muito mais abrangente, tanto do ponto de vista da dimensão das infraestruturas como do ponto de vista dos postos de trabalho e da dinâmica empresarial e económica da região do que a atual”, sublinha o presidente da Câmara da Covilhã, sem apontar o número de trabalhadores do Centro de Dados localizado na cidade há 12 anos.

Na altura em que foi anunciada a construção, faseada, até quatro torres, em 2011, o município informou que a estrutura, desenhada por Carrilho da Graça, estaria dotada de um parque eólico de 28 torres, a construir para servir as instalações.

Entre outras contrapartidas para a construção dos quatro cubos, o município cedeu água, a isenção do Imposto Municipal sobre Imóveis por dez anos e do Imposto Municipal sobre Transmissões.


Portugal é mercado “atraente”

Na nota em que é anunciada a operação, a Asterion destaca a escolha de Portugal como um mercado “atraente”, devido aos “preços baixos de energia, conectividade terrestre robusta e condições regulatórias favoráveis”.

“Portugal também se destaca como um dos mercados de fibra mais avançados da Europa e beneficia de um sistema energético resiliente, apoiado por investimentos significativos em geração renovável”, acrescenta o fundo de investimento em infraestruturas.

A Alterion menciona que o espaço permite “uma expansão significativa” e a possibilidade de aumentar a capacidade através de novos módulos.

“O Covilhã Data Center Campus oferece atualmente 6,8 [megawatts] MW de capacidade instalada e um design de arquitetura modular que permite uma expansão significativa”, salienta o fundo, com sede em Madrid.

Segundo a Alterion, o centro de dados “pode acomodar até 75 MW de capacidade adicional através de novos blocos dentro do campus existente e uma oportunidade adicional de atingir cerca de 175 MW em terrenos adjacentes com energia já garantida”.

De acordo com a entidade compradora, a Altice continuará a ser o principal cliente da estrutura, na sequência de um contrato de serviços principal de longo prazo, “reforçando uma parceria estratégica que garante continuidade e visibilidade para ambas as partes”.

Inaugurado em setembro de 2013, e construído pela então Portugal Telecom, a estrutura ocupa os terrenos do antigo Aeródromo da cidade da Covilhã, no distrito de Castelo Branco, e foi projetado para a construção de quatro blocos, mas apenas um dos ‘cubos’ foi edificado.

O então presidente-executivo da Portugal Telecom, Zeinal Bava, realçou, aquando da inauguração, que a Covilhã foi escolhida para instalar o centro de armazenamento de dados pelas condições oferecidas pela autarquia, pela proximidade da Universidade da Beira Interior e pelo clima, com temperaturas médias baixas a maior parte do ano e ar seco quando está quente, o que permite utilizar o sistema de refrigeração "free cooling".

Bava pormenorizou que, entre as condições avaliadas, estavam a temperatura do ar e a humidade, os riscos sísmicos, de inundação, deslizamento de terras, as condições favoráveis para a instalação de energia eólica, os recursos hídricos ou as vias de comunicação.


Venda esperada

O anúncio da venda da Portugal Telecom Data Center S.A. (PT Data Center), uma subsidiária da Meo, acontece após anos de rumores sobre a transação do Centro de Dados localizado na Covilhã, numa altura em que a necessidade de capacidade de armazenamento tem aumentado.

Em 2022 a Bloomberg noticiou que a Altice estava a equacionar a venda, no âmbito de uma operação global mais vasta para abater a dívida do grupo e que envolvia mais de 90 centros de dados em França.

No ano seguinte a administração admitiu que estava aberta a propostas para os ativos na Covilhã e vieram a público informações de que o fundo de infraestruturas Horizon, do antigo governante Sérgio Monteiro, estava interessado, mas o negócio não se concretizou.

Também em 2023 a Altice França deu conta da venda da participação maioritária das operações de dados no país.

Já no início do ano veio a público que a Altice tinha recebido propostas para a venda do “cubo”, como a estrutura é conhecida na Covilhã.

Numa carta interna a que a Lusa teve acesso, a presidente-executiva da Meo, Ana Figueiredo, garantiu que a operadora está a "executar com determinação" o plano estratégico e que a venda do centro de dados não altera o modelo de funcionamento da empresa.

A ambição é "acelerar o crescimento sustentável, reforçar a nossa liderança tecnológica e preparar a empresa para um futuro marcado pela inteligência artificial, pela 'cloud' e por novos paradigmas de conectividade", vinca a CEO da Meo, na comunicação aos trabalhadores.