Azeite Novo do Alentejo “no pico da sua forma” apesar da quebra de produção

Lisboa recebeu a terceira edição do Festival do Azeite Novo, marcado pela apresentação de azeites de elevada qualidade numa campanha condicionada por um verão seco e prolongado.
Mariana Moniz
Mariana Moniz Jornalista
15 dez. 2025, 07:00

Festival Azeite Novo
Fotografia: A 3ª edição do Festival do Azeite Novo decorreu na Casa do Alentejo, em Lisboa | Conta Lá

O Festival do Azeite Novo regressou na passada quarta-feira, 10 de dezembro, para a sua terceira edição, desta vez em Lisboa, levando à Casa do Alentejo os sabores mais frescos da nova campanha oleícola. A mudança de Évora para a capital marcou um novo posicionamento do evento, mais internacional e voltado para um público urbano.

“Quisemos dar o salto para um público mais cosmopolita, mais trendy, e aproximar o azeite do Alentejo das dinâmicas do turismo e da promoção internacional”, explicou Manuel Norte Santo, presidente do Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo (CEPAAL) ao Conta Lá.

O festival reuniu 11 produtores da região, oferecendo provas dos azeites recém-extraídos da campanha 2025/2026. A mensagem central foi clara: o azeite novo é o produto no seu estado mais vibrante. “Os azeites novos reúnem as melhores características organoléticas. Estão no auge do aroma e do sabor - é quando o azeite está no pico da sua forma”, sublinhou Manuel Norte Santo, contrariando a ideia de que o azeite melhora com o tempo.

Criado em 1999, o CEPAAL assume hoje um papel estruturante no setor oleícola, com intervenção regional e nacional. Com 38 produtores associados no Alentejo, o organismo desenvolve ações de promoção, concursos de azeite, feiras, o Congresso Nacional do Azeite e vários projetos de investigação em parceria com instituições académicas.

“A nossa missão é promover o azeite do Alentejo e o azeite português, apoiar os produtores e criar conhecimento. Trabalhamos desde a investigação à comunicação e ao marketing, sempre focados na valorização deste património”, destacou a diretora executiva, Filipa Velez, em entrevista ao Conta Lá. 

 

Quebra de 20% na produção marcada por um verão demasiado longo

Apesar da qualidade elevada dos azeites apresentados, a campanha oleícola foi afetada por condições climáticas excecionais. Depois de um arranque aparentemente semelhante ao do ano anterior, o setor registou uma quebra significativa. “Estamos a falar de cerca de 20% de quebra na produção. Tivemos um verão muito longo, sem qualquer precipitação entre maio e o início de outubro, e isso teve um impacto direto”, explicou Manuel Norte Santo.

Segundo o presidente, mesmo com olivais tecnologicamente avançados o clima continua a ser o fator determinante. E isso sente-se também no perfil final do produto: “Cada ano reflete o clima que tivemos. Com menos precipitação, podemos ter azeites mais intensos e aromáticos. Este ano a qualidade está muito acima da média.”

 

Variedades tradicionais e novas tendências lado a lado

Entre os azeites em prova, destacaram-se tanto variedades tradicionais como a galega, a cobrançosa e a cordovil, como outras associadas a olivais mais modernos, como a arbequina e a arbosana. “Temos aqui uma panóplia muito grande que permite perceber as diferenças entre azeites mais verdes, mais maduros, entre o Baixo e o Alto Alentejo. É uma experiência sensorial muito rica”, descreveu o presidente.

O dinamismo do setor tem contribuído para reforçar a presença internacional do azeite português. “Portugal tem a maior percentagem de produção de azeite virgem extra do mundo. Estatisticamente, significa que produzimos o melhor azeite do mundo”, afirmou Norte Santo, sublinhando também os prémios que produtores nacionais arrecadam anualmente nos concursos mais prestigiados.

O Conta Lá marcou presença no workshop de Provas de Azeite, orientado por Filipa Velez. A responsável destacou a importância de formar consumidores mais conscientes: “É essencial que as pessoas percebam a diferença entre um azeite virgem extra e outros tipos de azeite. Queremos criar consumidores informados e, acima de tudo, embaixadores deste património que é nosso.” 

A sessão permitiu aos participantes perceber perfis sensoriais e distinguir azeites verdes, maduros ou intensos. Filipa Velez sublinhou também a relação entre os preços e as condições climáticas: “As alterações climáticas mudaram completamente as regras do jogo. Quando há menos oferta, o preço sobe - e ainda bem. Estamos a falar da gordura mais saudável que existe, um superalimento.”

Quanto à dúvida comum sobre a diferença entre o azeite provado no festival e o que chega às prateleiras, garantiu continuidade: “Os azeites que provaram aqui são grandes lotes e vão chegar ao consumidor. Não com a mesma frescura do dia da extração, claro, mas com a mesma identidade e qualidade.”

 

Exportação enfrenta desafios, mas setor mantém ambição

Apesar do reconhecimento, os produtores enfrentam dificuldades num mercado global volátil. “A instabilidade política mundial tem impacto direto: tarifas nos Estados Unidos, guerra na Ucrânia, tensões comerciais… tudo isto atrapalha quem quer exportar”, referiu Manuel Norte Santo.

Para o responsável, a estratégia futura passa por união e afirmação conjunta: “Precisamos de um setor mais unido. Primeiro promover Portugal e o azeite português, depois o azeite do Alentejo e finalmente as marcas. É muito mais proveitoso crescermos juntos.”

 

A edição deste ano posicionou o Festival do Azeite Novo num território mais estratégico para captar turistas, jornalistas e consumidores curiosos. O foco, garantiu Manuel Norte Santo, manteve-se sempre no essencial: mostrar que o azeite novo do Alentejo continua a ser um dos melhores do mundo e que a sua frescura é a chave para desvendar toda a riqueza sensorial que o caracteriza.

Além de dar visibilidade aos produtores, a presença em Lisboa pretende também aproximar o azeite do quotidiano urbano. “Queremos que o consumidor perceba que o azeite novo não é um produto só de especialistas. É para ser usado, provado e comparado, tal como se faz com o vinho”, defendeu o presidente do CEPAAL, sublinhando a importância de criar cultura oleícola junto do público mais jovem e cosmopolita.

Para os produtores, esta mudança de palco é vista como uma oportunidade de abrir portas a novos mercados e reforçar a imagem premium do azeite português. Ao trazer o festival para um ambiente mais internacional, o CEPAAL espera consolidar uma narrativa que há muito acompanha o setor: o Alentejo não só produz azeites de excelência, como está preparado para competir ao mais alto nível no panorama global.