O projeto que reinventou a cultura do pistácio em Portugal

Depois de ter ganhado o Prémio de Jovem Agricultora em 2023, Inês Marques Lopes conduz a maior plantação de pistácios do país em Arraiolos, no Alentejo. Um projeto inovador.
 
Rui Mendes Morais
Rui Mendes Morais Jornalista
08 dez. 2025, 06:00

Pistachios à Portuguesa
Fotografia: Inês Marques Lopes é proprietária do "PTchio"

A estrada até Arraiolos, no Alentejo, fica cada vez mais estreita e perde o alcatrão à medida que se aproxima a Herdade de Vale Figueira. Ocasionalmente, um rebanho cruza o caminho, indiferente às mudanças que vão acontecendo naquele pedaço de território onde o solo convive com uma cultura improvável: o pistácio. É ali, a quatro quilómetros da vila, que Inês Marques Lopes, de 31 anos, reinventou a própria vida e, talvez sem prever, desafiou o mapa agrícola português. 

É proprietária da maior plantação de pistácios do país: ao todo são mais de 12 mil plantas em cerca de 40 hectares, cada uma delas uma promessa para o futuro. Tudo quanto plantou há dois anos precisará de mais dois até que o investimento que fez dê retorno. Foi aqui que começou o `PTachio´, um projeto desenhado entre 2021 e 2023, altura em que foi distinguida com o Prémio de Jovem Agricultora, da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP). 

A engenheira agrónoma trocou a cidade de Lisboa pela calma do Alentejo, “onde o pistácio se pode desenvolver melhor devido ao clima”, explica ao Conta Lá. A ambição de investir na produção no fruto seco começou pelo contacto da proprietária com esta “cultura menos exigente”, em Espanha, quando realizou Erasmus em Córdoba. 

Apesar de “não ter um retorno imediato”, a cultura do “pistácio é um projeto de vida”, com um ciclo de mais de 50 anos produtivos, que embora “não precise de atenção diária, ao contrário de outras culturas”, necessita de uma geração que cuide do negócio da família, onde investiram com “o propósito de futuro”. 

 

A jovem agricultora e o marido, que também é proprietário do projeto, apoiaram-se nos fundos europeus, como o Projeto Jovem Agricultores em 2020, que disponibilizou 500 mil euros, apesar de metade do valor ser fundo perdido não reembolsável. Além disso, o título de jovens agricultores garantiu-lhes um prémio à instalação de cerca de 20 mil euros, também a fundo perdido. 

“Com uma herdade com esta dimensão” e um custo de “16 euros por planta”, os apoios “são insuficientes” para cobrir a totalidade do investimento e os anos sem retorno financeiro que Inês Marques Lopes sublinha que “era algo que já tinham previsto” mas que “a longo prazo valerá a pena”. 

A primeira produção está prevista para o 4.º ano de vida das plantas, quando atingirem a maturidade, em 2027. A estimativa é de pelo menos 1500kg de pistachios por hectare, feita através de uma colheita mecânica. 

A aposta na tecnologia “é de grande importância” para o casal, facilitando a rotina diária, desde a rega à colheita e até ao controlo da temperatura, explica a agricultora. Além disso, acredita que o uso da tecnologia permite uma gestão mais sustentável, que contribui para a conservação dos pistácios. 

 

O sabor do fruto seco que agora nasce no Alentejo “não é muito diferente do que estamos acostumados”, avança a jovem produtora. Já teve a oportunidade de provar o pistácio da herdade, à semelhança dos trabalhadores que afirmam “serem ótimos”, ainda que não tenham a armadura salgada que caracteriza o fruto.  

Inês Marques Lopes espera que “os portugueses apreciem” o produto e valorizem o “cuidado com que são produzidos”, realçando que o tamanho dos pistácios, maior do que é costume encontrar, é uma forte marca da produção.