Ser mulher “num mundo masculinizado”. A história de Sabrina Saraiva, uma premiada jovem agricultora de Cinfães

Sabrina Saraiva tem 23 anos, é uma jovem produtora de gado, natural da aldeia da Gralheira, em Cinfães. Em novembro, foi a única mulher galardoada na primeira edição da Gala AJAP Portugal Winners. 
 
Joana Amarante
Joana Amarante Jornalista
12 dez. 2025, 07:00

Promovida pela Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP), no início de novembro a Gala Portugal Winners distinguiu jovens agricultores. Sabrina foi a única mulher premiada, na categoria de Jovem Empresário Rural. 

“É uma honra poder estar lá, ser do interior, ser mulher da agricultura, ser eu a reconhecida no meio dos grandes produtores, mas acho que isso reflete o esforço que temos”. 

Sabrina é maquilhadora profissional e nunca sai de casa sem se arranjar primeiro. “Sempre gostei muito de me maquilhar, para mim é como lavar os dentes”, sublinha em entrevista ao Conta Lá.  Começou por ajudar as amigas, depois familiares em casamentos. Não se sentia preenchida com o curso superior que frequentava e acabou por deixá-lo para tirar um curso online de maquilhadora. 

O blush e o rímel não a impedem de dividir o resto do dia entre o barracão dos vitelos e dos cavalos e o monte onde as vacas pastam livremente. A meio do dia ainda arranja tempo para ajudar a mãe no restaurante.

A jovem agricultora recorda que, em pequena, gostava do gado e de andar com o pai nas feiras e nas lutas de bois. Mas a paixão parou por uns tempos: “O meu pai tinha medo que me magoasse e eu era demasiado menina para andar naquele mundo tão masculinizado”. Houve, no entanto, algo que permaneceu, e mais tarde Sabrina voltou para ajudar o pai na empresa de turismo.

“Quando acabei de estudar percebi que aquilo também podia fazer parte da minha realidade e que me fazia falta essa conexão com os animais”, sublinha. 

Sempre soube andar a cavalo, por influência dos pais. “Diziam-me desenrasca-te, vale tudo menos cair!”, relata Sabrina. Mas nunca tinha tido aulas. Foi apenas este ano que decidiu federar-se para ter conhecimentos técnicos.

Na empresa do pai, começou por ser guia em passeios equestres, mas andar no meio das vacas e dos vitelos fê-la perceber que queria o seu próprio gado. Foi com um presente de aniversário caricato que tudo mudou. Aos 22 anos, Sabrina recebeu um boi (o Bonito) e começou a sua própria produção. 

Hoje conta cerca de 30 cabeças de gado, da raça arouquesa, a carne que é estrela da Toca dos Carvalhos, na Gralheira. No restaurante da família prezam servir o que é da terra, carne criada por eles e de forma biológica. 

“A carne não é certificada e acho que não tem de ser, porque com o turismo as pessoas podem vir cá, dar-lhes comida, estar em contacto e acho que isso é mais importante do que ter um rótulo”, afirma Sabrina, que descreve a raça arouquesa como única e especial. 

Com quase 10 mil seguidores no facebook, a jovem é muitas vezes abordada na rua, já que a conhecem como a “menina que grava vídeos com os bois”. 

Sabrina confessa que ser mulher neste mundo não é tarefa fácil, mas diz com convicção: “As mulheres têm o sítio delas onde elas quiserem, tanto na agricultura como em qualquer outro ramo”. A jovem de 23 anos sente que o papel feminino não é suficientemente valorizado neste setor.

Não se vê a fazer outra coisa, tem orgulho na sua profissão e gosta de inspirar outras mulheres, especialmente as mais novas, a entrar na agricultura.