Sindicalistas, reformados, jovens e crianças. A manifestação da greve geral uniu gerações no Porto
A paralisação convocada pela CGTP e UGT moveu uma mancha humana de centenas de pessoas na Avenida dos Aliados. A manifestação juntou sindicalistas e reformados, contra as propostas do Governo para mudar as leis laborais, mas também muitos jovens e crianças.
No meio da multidão havia quem não passasse despercebido. A pequena Isabel, de seis anos, veio com os pais. Não foi a primeira vez num ambiente de manifestação. Já costuma participar nas comemorações do 25 de Abril e do Dia do Trabalhador. Diana Devezas, a mãe, explica porque decidiu trazê-la a uma greve geral: “A Isabel também está de greve porque uma lei laboral tem repercussões a longo prazo na vida dos pais e dos filhos e a continuar assim terá repercussões muito sérias não só na infância e juventude dela, mas também quando ela chegar ao mercado de trabalho”.
A par de Isabel, na praça da greve estavam mais duas meninas que seguravam cartazes feitos com empenho pelas próprias mãos. Disseram, de forma tímida mas convicta ao Conta Lá: “Viemos lutar pelos nossos direitos”. Entre os desenhos, viam-se cravos e letras soltas de quem ainda não sabe escrever: “Ó mãe, nasci num país que me odeia”, lê uma das meninas em voz alta. “Não podemos deixar de mostrar o cravo”, acrescenta a outra, com as palavras que a mãe lhe sussurrou ao ouvido.
Do lado oposto estavam Manuela e António Rosário, um casal de reformados, solidários com os afetados, que também quis deixar o seu contributo neste dia marcado pela greve geral. “Trabalhei 46 anos, como assistente operacional na Escola Superior de Saúde do Porto, e recebo uma reforma miserável, nem aos 600 euros chega e vou ter um aumento de 18€”, lamenta Manuela Rosário. O marido acrescenta: “Vi hoje na televisão que quem vive até 723 euros está em estado de pobreza, então a minha esposa está em pobreza total”.
Mais próximas do palco colocado pela CGTP estavam duas estudantes a defender os seus direitos. “Ainda não ingressei no mundo do trabalho, mas tenho muito medo do que isso se está a tornar. Tenho medo pelo meu país e pelo meu futuro, de não ter condições e uma vida segura”, sublinha Catarina Santos.
Foram vários os testemunhos recolhidos, mas todos se moviam pelo mesmo slogan: “Se o pacote não cair, cairá o Governo” foi a frase que mais se fez ouvir no dia da greve.
Afonso Pires tem 26 anos e exerce funções na Fundação Serralves, pelas mãos da empresa Egor. Decidiu fazer greve, mas deixou claro que não está descontente com o seu trabalho. “Tenho um bom trabalho e uma boa chefia, mas não podia deixar de lutar neste dia”, sublinha. Tal como a maioria das vozes que ecoaram no centro do Porto, Afonso usou a sua para contestar o pacote laboral. “Não concordo de todo com o pacote laboral porque é um retrocesso completo e vai agravar ainda mais as assimetrias, os ricos tornar-se-ão mais ricos e os pobres, mais pobres”, acrescenta o jovem trabalhador.
A manifestação durou cerca de uma hora e meia e seguiu em marcha até à praça D.João I, cortando o trânsito no centro do Porto.